sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

O que diferencia uma boa ideia de algo que realmente seja inovação?


O mundo vivencia importantes transformações em diferentes âmbitos. Os avanços tecnológicos, o acesso à internet, o empoderamento, o empreendedorismo e os novos modelos de negócio, vêm gerando impactantes resultados em aspectos econômicos e sociais. Neste contexto, a inovação é assunto imperativo em todos os cenários, seja na entrega de bens, de serviços ou de outros aspectos. Nunca ouvimos falar tanto sobre boas ideias que geram produtos fantásticos e nem mesmo sobre tantas empresas surgindo com propostas altamente diferenciadas. Se você percebeu todos esses movimentos, parabéns, você é um humano conectado com as propostas do futuro! Mas, quer saber sobre algo que pode parecer assustador? Esse tal futuro não está tão distante assim.
            Já aconteceu de você estar realizando uma tarefa habitual e “do nada” pensar na solução de algum problema relevante e que ajudaria na sua vida ou na de outras pessoas? Ao pensar nisso, quantas vezes você deu o passo seguinte e colocou a ideia no papel? Uma reflexão ainda mais profunda: após abandonar esta ideia “brilhante”, em algum momento da sua vida você percebeu alguém criando um novo bem ou serviço exatamente como você havia pensado? Se estas reflexões lhe causaram frustrações, não sinta-se assim. Nem sempre as boas ideias viram oportunidades de negócios e, chegar em algo inovador, que realmente faça sentido ao consumidor, não é tarefa fácil. Contudo, o gatilho para isso está em nossas mãos, sendo que contamos com uma importante ferramenta que já nasceu e vive conosco, precisando apenas ser estimulada: a criatividade.
            A criatividade é inerente ao ser. Somos mais ou menos criativos conforme exercitamos os seus mecanismos e o quanto mais conseguimos evitar os aspectos que nos afastam dela. Os ambientes que mais deveriam estimular a nossa criatividade e não deixá-la morrer, são os que mais interferem negativamente, de acordo com importantes estudos do campo. São eles: o ambiente escolar e o ambiente empresarial.
            A estrutura do modelo educacional, - ainda tão tradicional e arraigada no passado -, dificulta por vezes as trocas de aprendizado e conhecimentos e neutraliza a potencialidade do aluno como protagonista do processo de ensino. As regras quando aplicadas de forma rígida e sem explicações plausíveis, virando sequências de “nãos” sem contextualização, faz com que os alunos deixem de colaborar e deixem de tomar iniciativas pelo simples medo de fazer errado e fracassar. Daí a criança cresce, entra em uma organização com uma cultura bastante rígida, e segue achando que fazer diferente pode ser ruim. Quando tenta algo novo, as regras, burocracias e sistemas a colocam novamente em seu “devido lugar”. Triste tudo isso? Infelizmente é a realidade em muitos lugares do mundo.
            Então... qual o valor de uma ideia e qual a importância em compartilhar ideias e ir com elas ao infinito e o além? A resposta para essa pergunta não é tão simples, mas, a boa notícia é que é algo que se pode aprender, praticar e tangibilizar. Isso acontece pelo fato de nem todas as ideias serem realmente boas ideias. Ideias são projeções mentais inerentes ao ser humano. Logo, temos ideias sempre, até mesmo quando não queremos tê-las. Mas, se você está tendo ideias que podem se tornar, por exemplo, novos bens ou serviços para a sociedade, daí já estamos falando de outro potencial de ideação. Você quer que sua ideia seja uma inovação para o mercado consumidor? Então vamos lá!
            Para que boas ideias se tornem inovações no mercado, muitos passos permeiam este gap. Uma inovação precisa sempre gerar valor ao mercado. Uma empresa que gera valor ao consumidor, possui vantagem competitiva perante as outras e possivelmente irá obter a satisfação dos consumidores. Quem sabe, até consiga aqueles tão sonhados clientes rentáveis! Ademais, este valor que falamos aqui, não é o valor financeiro, e sim aquele que parte da comparação (por parte do consumidor) sobre os benefícios percebidos em relação aos custos totais associados ao produto. Por exemplo, se um consumidor avalia um produto, ele irá pensar sobre todos os benefícios que aquela aquisição lhe proporcionará e, em seguida, irá pensar também se o preço é compatível com todos estes benefícios, Se a conta fechar, existe a percepção de valor.
            Portanto, entre as boas ideias e as inovações, pode existir uma etapa chamada de invenção. Invenção é o momento que tiramos a ideia do papel e encontramos uma forma de torná-la perceptível e tangível (de alguma forma). Normalmente, dentro dos estudos de inovação, chamamos de prototipação. A prototipação pode acontecer com diferentes elementos e em diferentes contextos. Em algumas das vezes são utilizados os blocos de montar, amparados pela metodologia Lego Serious Play®. Os blocos são utilizados para estimular o pensamento criativo, auxiliando na tomada de decisão e em definições de estratégias. Portanto, prototipar com os blocos é uma das soluções viáveis para o processo inventivo.
            Mas, por qual razão a invenção é tão importante? Empresas inovadoras, que pretendem impactar o mercado, atingindo muitos consumidores e alcançando a vantagem competitiva, passam um bom tempo prototipando suas ideias. Isso acontece porque é preciso mostrar claramente o que estava apenas no pensamento e conseguir com isso demonstrar a usabilidade, potencial, formatos, cores, etc. As equipes das empresas precisam ver claramente o que está sendo idealizado e os consumidores também. Sim! Em muitos projetos de grandes empresas, os clientes são convidados a testar estes protótipos, como sendo uma forma de verificar se as necessidades estão sendo devidamente atendidas. Ao realizar esses testes, é possível atribuir o valor ao produto antes mesmo dele chegar ao mercado.
            Quantas vezes vemos empresas levando produtos até as lojas e não obtendo sucesso nas vendas? Quantas vezes os clientes não percebem os benefícios ou não aceitam os preços, e simplesmente se esquecem daquele produto? A triste realidade pode ser evitada se as ideias forem lapidadas cuidadosamente e transformadas em protótipos. Quanto mais reais e funcionais eles forem, melhor para a adequação da proposta de valor.
            Então, ao atingir este patamar, será possível definir se o mercado verdadeiramente aceita o produto (bens e serviços) e se sua capacidade em inovar o mercado será reconhecida verdadeiramente pelo público na qual o produto se destina. Inovações não podem gerar valor apenas para uma parte do público que o consome. Inovação precisa der mais democrática e efetiva: ela precisa mudar (ou melhor) a vida de muitas pessoas em diferentes aspectos!
            Sendo assim, ideias e invenções podem sempre caminhar juntas, possibilitando que encontremos mais rápido e de forma mais clara o valor que o mercado esta entregando para cada consumidor. Ah... uma curiosidade final: você pode realizar estas etapas não apenas para propostas de novos bens ou serviços, mas também para sua própria carreira. Exato! Quando você se apresenta para o mercado, está propondo a ele o seu valor... não é mesmo? Então, comece a se planejar fazendo estas reflexões á luz da inovação. Você verá que faz muito sentido! Tente!


Bruna Melo
Doutoranda em Marketing. Professora, pesquisadora e Consultora em Inovação e Ensino do futuro.

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