O conceito de trabalho mudou e, como isso, mudou também o que se
espera de um líder. Uma pista: vai muito além de eficiência.
As organizações podem até lhe dar
um cargo, mas não podem fazer de você um líder. Por outro lado, você pode ser
um líder mesmo sem ter um cargo. Na última década, o que se vê nas organizações
é uma estrutura que tende a ser menos hierarquizada e este é um cenário que
possibilita emergir lideranças pelo exemplo, pela influência e pela capacidade
de realizar. Mas, afinal, o que se espera de um líder hoje?
Primeiro vamos pensar em como a
relação do indivíduo com o trabalho mudou. Até um tempo atrás, trabalho
significava pesar, sacrifício, sofrimento. Acreditava-se que o trabalho deveria
vir antes do prazer. A própria palavra trabalho vem do latim tripalium –
designa um instrumento utilizado para imobilizar animais e também um
instrumento de tortura. Na concepção bíblica, também, o trabalho foi um castigo
dado a Adão quando expulso do Paraíso: “Com o suor do teu rosto comerás o teu
pão”
Este pensamento esteve presente
durante décadas, e era muito comum se ouvir uma conversa como esta numa manhã
qualquer em uma empresa:
– Nossa, preciso de um café,
estou muito cansado pois ontem eu trabalhei até às 22h…
– Só até às 22h? Pois eu fui
embora já tinha passado de 1h.
Naquele contexto, dizer “estou
feliz e tenho prazer no trabalho” seria praticamente motivo de demissão por
justa causa.
Com tantas transformações pelas
quais passamos, sejam tecnológicas, sociais e políticas, o significado e as
relações do indivíduo com o trabalho também mudaram.
Para a geração que entrou no
mercado nos anos 2000, prazer e trabalho passaram a andar lado a lado. O
trabalho precisa ser, sim, fonte de prazer, de realização e de desfrute. O
indivíduo precisa estar ali por escolha, e não por obrigação. Assim como o
conceito de comércio como sendo baseado em trocas voluntárias, as relações de
trabalho vêm caminhando, cada vez mais, para serem escolhas voluntárias. Neste
sentido, gera-se valor por meio de alinhamento de propósitos.
Diante desta série de mudanças o
que se espera de um Líder no século 21?
Num passado recente, diríamos que
um bom líder seria um líder eficiente. Hoje em dia, isto não é mais uma
verdade. A eficiência passou a ser uma característica básica, é o mínimo que se
espera dele. O que diferenciará um líder será seu protagonismo e sua capacidade de gerar valor.
Protagonistas sabem que são
responsáveis pelas suas decisões e consequências inerentes. E são aqueles que
assumem o controle de suas vidas, abrem mão do “conforto” de serem vítimas das
situações.
Seu chefe não entende você? Não
adiante entoar a frase: Oh vida, oh céus!…”, como o personagem Hardy do desenho
animado!
Quem não se posiciona como
protagonista, necessariamente, acaba ocupando o lugar de vítima.
Para as vítimas, a situação é
imutável, a causa é perdida, e como disse o filósofo J. P. Sartre: “O inferno
são os outros”. As vítimas se enchem de auto-piedade, e reclamam de como o
mundo as tratou mal.
O protagonista, por outro lado,
sabe que as coisas estão sob sua responsabilidade, toma as rédeas de sua vida,
assume suas decisões e seus erros. Normalmente, ser protagonista é mais
difícil, mas não há como conquistar nada sem se colocar como condutor da
própria vida.
No passado, havia uma crença de
que o Estado seria o responsável por prover saúde, educação e segurança da
população. As revoluções e inovações promovidas por grandes lideranças e por
indivíduos empreendedores têm nos mostrado exatamente o contrário. Indivíduos
empreendedores têm capacidade e eficiência muito maior do que o Estado para
solucionar os problemas, movidos tanto pelo espírito de cooperação como o de
crescimento dos negócios.
Da mesma forma, podemos observar
a relação do indivíduo com a empresa, pois até hoje muitos acreditam que a
empresa é responsável pela carreira e pela felicidade dos empregados. A
realidade é que os indivíduos são livres para tomarem suas decisões e, como
governadores, diretores e protagonistas de suas vidas e carreiras, não devem
delegar para a empresa (ou o chefe) a responsabilidade por sua carreira. Um bom
líder saberá não tratar sua equipe com paternalismo, mas sim estimular o
empoderamento e o protagonismo de sua equipe.
Não há sorte e nem coincidências:
os protagonistas costumam ter alta performance em seu ambiente de trabalho. O
PHD em Psicologia por Harvard Daniel Goleman desenvolveu estudo acerca do
conceito e elementos da Inteligência Emocional, comprovando que times com um
líder com alto grau de autoconhecimento, autocontrole, motivação, empatia e
habilidade social têm desempenho em torno de 50% maior que os outros. Não é de
se espantar que os cinco elementos da inteligência emocional levantados por
Goleman sejam as características marcantes dos verdadeiros protagonistas.
Neste contexto de mais acesso à
informação e diminuição de hierarquias, o líder tem que se comportar da forma
mais autêntica possível. E não ser apenas um avatar que apenas reproduz um
comportamento esperado. O avatar do funcionário, do líder, do subordinado, do
empresário, do pai de família… Para cada papel parece existir uma espécie de
“cartilha”. Quanto mais recorremos ao avatar, menos somos nós mesmos. E quando
estamos representando, não estamos existindo.
Portanto, o líder protagonista
vai além dessa cartilha. No século 21, os indivíduos que terão maior sucesso
serão os autênticos, que entendem que sua liberdade traz consigo
responsabilidade, com alto nível de inteligência emocional, e que entendam que
devem gerar valor para seus liderados e para seus clientes.
Como diz Peter Drucker, um dos
maiores gurus da Administração, líder é alguém capaz de fazer com que os outros
o sigam, sendo principalmente essa habilidade que melhor o descreve. A
qualidade da liderança não se mede pela popularidade de que goza, mas pelos
resultados que consegue produzir.
O líder protagonista lidera pelo exemplo. A liderança não é uma questão de classificação, de privilégios, de títulos ou de dinheiro. É uma questão de responsabilidade.
O líder protagonista lidera pelo exemplo. A liderança não é uma questão de classificação, de privilégios, de títulos ou de dinheiro. É uma questão de responsabilidade.
Fonte:
Joseph Teperman e Clariana Marega
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