quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Como me tornei professora?


Já diz o ditado que “relembrar é viver”. E eu acho tão lindo isso. No dia a dia dos meus atendimentos, vivencio o resgate das pessoas por suas próprias memórias. É simplesmente emocionante perceber o movimento que fazem em busca delas mesmas. Hoje tenho a missão de escrever sobre como me tornei professora. E, como boa orientadora de carreira, remeto-me à história desse desfecho.

Nunca sonhei com isso. Não foi proposital. Aliás, bem ao contrário. Ainda no colégio, eu alardeava que era “péssima em ensinar”. Não tinha paciência, não tinha didática, não compreendia o que era difícil pro outro se pra mim era tão simples. E, como a gente aprende com o tempo, temos pouco controle sobre os acontecimentos que nos acometem. Durante o estágio obrigatório de psicologia do trabalho, fui para uma empresa com o objetivo de efetuar minhas atividades no setor de Recursos Humanos. Por motivos outros, o estágio no RH tornou-se inviável e eu fui para o setor de responsabilidade social da empresa. O projeto em andamento lá funcionava com adolescentes. Mais especificamente com a preparação deles ao mercado de trabalho. Foi um desespero. Caí lá de paraquedas. Queria muito me formar e não havia tempo hábil para procurar outro lugar. Tive que encarar. E foi a primeira vez que entrei em uma sala de aula nesse novo “lugar”: PROFESSORA.

A primeira aula foi um desastre. Como eu vim a aprender depois, os alunos sabem direitinho o que se passa com o professor. “Eles vibram na tua vibração”, eu ouvi de um colega. Eu estava nervosa, a minha fala sumiu um pouco, fui testada o tempo inteiro. Mas sobrevivi!!!!! E o “mosquitinho” me mordeu... Muitas outras aulas vieram, algumas sensacionais, outras ruins, algumas boas, outras médias, mas a troca, o afeto, o carinho e a aprendizagem seguem sempre, a mil. Nas primeiras experiências, eu levava muuuuuito tempo preparando as aulas, tinha dúvidas sobre tudo: expectativas, tempo, clareza, e se algo desse errado?

Com o tempo, a organização foi ficando mais fácil. Um dia a minha chefe me disse: “Esteja presente com eles, isso é o mais importante”. E eu levo muito isso pra minha vida hoje, para as minhas aulas. Independentemente do resultado da aula, eu dou o melhor de mim ao prepará-la e quando a estou ministrando busco estar por inteiro ali, com uma preocupação genuína com as pessoas. “Não é possível ‘afetar’ nem agradar a todos”, foi outro ensinamento desses anos de docência. E a frustração é uma companheira fiel do cotidiano.

Depois desse ensaio, comecei a dar aulas em um curso de extensão na minha área de atuação. Depois vieram outros convites, inclusive para a pós-graduação. Mais recentemente, assumi quatro turmas de graduação. A cada aula, eu ainda sinto aquele friozinho percorrer a espinha e uma dorzinha no estômago. Mas, se até a Hebe Camargo, do alto dos seus 50 anos de carreira, disse que sentia isso a cada entrada em seu programa, sinto-me totalmente adequada com minhas sensações corporais. E creio que, se eu pudesse escolher, optaria por continuar a tê-las. Isso me diz que estou viva, que quero acertar, que me importo, que estou presente. E isso é o máximo!


Com todas as reconfigurações que o papel do professor vem sofrendo nos últimos tempos, eu penso que o meu pensamento lá da escola faz mesmo sentido: ser péssima em ensinar pode seguir sendo uma característica, embora estar disposta a mediar e acompanhar descobertas do outro seja muito mais significante. É o que eu busco, e pretendo seguir fazendo!

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