quarta-feira, 10 de agosto de 2016

O dia a dia do Advogado


Lembro de um tempo quando eu ainda acreditava que o sol girava ao redor da terra. E um amigo meu mais velho, já com seis anos, disse que eu estava errado. 
Ao voltar a casa, contei para meu pai o acontecido, que além de dar razão ao meu amigo, acrescentou outras informações que eu nunca havia imaginado.  Minha convicção havia caído por terra. Aquilo que parecia tão óbvio para mim, era uma falsa percepção.

Aos 11 anos, eu sabia, sem qualquer dúvida, que seria advogado. 

Aos 15 anos, eu saía da roça, em busca de uma vida melhor.

Hoje, quando leio minhas petições, posso perceber claramente, pela rusticidade da forma, palavras e expressões, que a roça ainda permanece em mim. Aliás, não é só quando escrevo que que aparecem esses traços. Meu jeito e minha fala denunciam minha origem.  Mas muito me orgulho do meu passado e de ter vindo de família sem qualquer tradição no ramo do direito, senão sem tradição alguma em qualquer outro ramo, para me meter, de corpo e alma, nessa aventura chamada advocacia. 

As pessoas vivem num emaranhado, umas conectadas às outras, num complexo sistema chamado sociedade ou organismo social. Esse organismo é vivo e o médico desse organismo é o advogado.
É o advogado que cuida do equilíbrio dessas relações sociais. 

Nascemos, crescemos, estudamos, trabalhamos e evoluímos. Mas não há evolução alguma sem liberdade. Liberdade de ir e vir, de escolha, de expressão. E é o Advogado que preserva o direito a essa liberdade.

Trabalhamos  para nos sustentar, para conquistar patrimônio. E quem senão o advogado para cuidar do direito ao trabalho, ao patrimônio? 

A nobreza da advocacia está no exercício do direito à preservação daquilo que é mais nobre ao ser humano: liberdade e patrimônio.   A bem da verdade, quase todas as relações humanas são fatos  com relevância jurídica. E o  profissional do direito pode ajudar nessa relações.  Advogar, provém da palavra advocare, que significa ajudar. E ajudar as pessoas é a missão do advogado.

Argumentos fazem parte do dia a dia de nossas vidas. Convicções, dependem desses argumentos e não são mais estáticas.

Sabe aquele  um por cento do povo que nunca sabe nada, que nunca viu nada, dos quais Lula e Dilma fazem parte? E aqueles dois por cento que nunca  opinam, dados estes revelados em todas as pesquisas, dos quais fazem parte inclusive os que se escondem na covardia do silêncio das redes sociais?. Pois bem, advogar é estar na outra ponta. É fazer parte de  um por cento que faz a diferença, que opina  sobre tudo. É um generalista que não tem medo de se expor. Que não se esconde atrás da cortina covarde do silêncio e que luta vinte e quatro horas por dia.  Não é uma questão de ESTAR advogado apenas quando se trabalha; é SER ADVOGADO durante todo o tempo. 

É claro que a ilusão da beleza da  profissão, quando do início da advocacia,  não existe mais. Pois a fria realidade é cruel. Quando descobrimos como de fato se estrutura o Estado em que vivemos, quando  descobrimos que vivemos numa pseudo democracia, onde  o Estado em seus três níveis e suas autarquias, fundações e empresas são os que mais ameaçam, ofendem e retiram o direito do cidadão  e quando se revela a estrutura invisível do poder judiciário no andamento dos processos, seja ela na tendência política, religiosa ou das frustrações infantis dos julgadores e servidores, quando da apreciação das demandas; é claro que, no mais das vezes,  dá vontade de pegar em armas. 

Mas nossas armas não são de fogo, são de palavras. Claro que essas, às vezes, faíscam e até mesmo pegam fogo.

Essa insegurança jurídica que vivemos hoje, patrocinada por um Estado lerdo, caro e ineficiente, ao invés de ser um empecilho,   é um estímulo para me fazer levantar todas as manhãs. Sabemos que o Estado é extremamente eficiente apenas para arrecadar tributos e é inexplicavelmente ineficiente para cumprir suas obrigações. Assim, não podemos baixar a guarda.
Ser advogado é sentir-se útil! Não é profissão para fracos, para descontrolados,  para aqueles que se aborrecem com facilidade, para preguiçosos. É para aqueles que amam leitura, estudo, trabalho e acima de tudo gostam de gente. E gente cria problemas. Problemas para si e para os outros. Alguns, mais astutos, procuram o advogado antes de criar o problema. Outros desavisados, procuram quando o problema  já está criado.

A satisfação da vitória numa ação judicial não tem preço. Mas temos que ter muito desprendimento, pois para a maioria dos clientes, o direito já era deles ou veio pela reza ou pelo trabalho do pai de santo. ( Putz!  Se tivessem me avisado antes, eu teria trabalhado menos nesse processo.) Também, temos que ter muito controle, pois a perda de uma ação, é sempre culpa do advogado. Essa ingratidão, felizmente de poucos,  para mim nunca foi motivo de desgosto. 

Um pouco de desgosto eu sinto quando me deparo com juízes despreparados. Esses que gritam, batem na mesa e ameaçam advogados e partes. Felizmente são raros. Certa feita, tive que dizer a uma juíza  que a atitude dela não era compatível com a função que ocupava. Ela ficou ainda mais descontrolada e literalmente caiu em lágrimas, e como resultado me aplicou uma multa de pelo menos trezentos mil reais, me condenando solidariamente com meu cliente por “ato atentatória a dignidade da justiça”. É claro que houve recurso e o tribunal reverteu a decisão. 

E certa feita quase fui esfaqueado ao expor meu ponto de vista, quando falava  para uma plateia de quatrocentas pessoas, muitas delas usando faca na cintura. Mas o risco foi bem calculado, porque no final eu revelei a eles uma surpresa bem agradável. 

Mas às vezes, tenho que baixar a guarda.  Há um mês fui a um enterro de um cliente. Quase tomei a palavra para defender a honra do morto. Afinal sou advogado. É que depois de ouvir o depoimento de que o defunto sempre foi um católico fervoroso, que participava ativamente da vida religiosa de sua igreja, eu tive que ouvir o pastor dizer que estava feliz porque  esse homem que morreu  aceitou e conheceu Jesus, uns três dias antes de morrer.  Ora, pois, que blasfêmia! Se o sujeito era católico, por óbvio era cristão. E se era cristão, era porque havia aceito e conhecido os ensinamentos deste. Então, como pode ter aceito Jesus apenas uns três dias antes de morrer?.  E olhem que eu não tenho nada a ver com qualquer religião. Mas a falta de bom senso desse pastor me deixou meio brabo.  Deu vontade de intervir, mas recuei. Bom ficar quieto quando o risco é iminente.

Mas apesar de tudo, não me vejo fazendo qualquer outra coisa, senão advogar. Me orgulho de fazer parte desse um por cento da sociedade que ama segunda feira. Que não fica em cima do muro, que opina. 

Parabéns aos meus colegas Advogados que fazem parte deste time!

Wylson Olivotto

Advogado

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