Sabe-se que o desenvolvimento de carreira ocorre ao longo de toda a vida, desde a infância até a velhice. Nessa perspectiva, espera-se que, a cada etapa de vida, a pessoa cumpra determinadas tarefas, sendo que o sucesso na realização delas torna o indivíduo mais apto para prosseguir no seu desenvolvimento vocacional.
De acordo com uma das principais e mais abrangentes teorias do campo de carreira, a Teoria Evolutiva da Carreira desenvolvida por Donald Super, o desenvolvimento vocacional ao longo da vida se dá em etapas sequenciais denominadas Crescimento, Exploração, Estabelecimento, Manutenção e Desengajamento. O estágio de crescimento corresponde aos anos de infância e início de adolescência, sendo um período inicial de desenvolvimento de atitudes frente ao mundo do trabalho, movido pela curiosidade e fantasia. O estágio de exploração, geralmente definido entre 14 e 24 anos, caracteriza-se por um processo de ajustamento e aprendizado sobre características e interesses próprios. A etapa do estabelecimento, por sua vez, envolve a implementação de escolhas em uma atividade mais ou menos estável, seguida por uma consolidação da posição profissional. Já o estágio de manutenção corresponde aproximadamente ao período entre 45 e 64 anos, e caracteriza-se pelo investimento na continuidade das atividades ocupacionais e em esforços para conservar o que já foi obtido. Por fim, o estágio do desengajamento, que se inicia por volta dos 65 anos, define-se por um afastamento gradativo do mundo do trabalho até a aposentadoria.
Por certo, os estágios definidos acima podem variar muito conforme as características de cada pessoa e contextos, bem como a duração de cada um deles. Entretanto, percebe-se que é mais ou menos esse o caminho socialmente esperado a ser percorrido. Cabe destacar também que a passagem de uma fase para outra da vida é marcada sempre por um período de transição. Aqui cabe mencionar e relacionar o conceito de “crise”, estabelecido pelo autor Erik Erikson, segundo o qual, ao longo da vida, os indivíduos defrontam-se com ritos de passagem esperados e não necessariamente ruins. Ao contrário, o autor diz que as crises são importantes e essenciais ao desenvolvimento saudável. Assim acontece com as transições no desenvolvimento vocacional. Caracterizam-se por períodos de mudança que são normativos e requerem certo grau de re-exploração e re-estabelecimento. Para melhor poder lidar com as transições ao longo da vida, cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas, o indivíduo deve desenvolver recursos que lhe possibilitem enfrentar as mudanças de maneira mais instrumentalizada. Esses recursos têm sido agrupados sob o conceito de Adaptabilidade de Carreira.
A adaptabilidade de carreira caracteriza-se pela prontidão e pelos recursos que uma pessoa dispõe para lidar com desafios e situações atuais e antecipadas, com transições ocupacionais e traumas pessoais através da resolução de problemas que são geralmente desconhecidos, mal definidos e sempre complexos. O conceito faz parte de um modelo de entendimento de carreira e intervenção que reconhece a instabilidade e a imprevisibilidade do contexto de trabalho na contemporaneidade. Nesta definição, a adaptabilidade é composta por quatro domínios ou dimensões principais: consideração (concern), controle (control), curiosidade (curiosity) e confiança (confidence).
Uma vez que o indivíduo tenha desenvolvido as quatro dimensões que compõem a adaptabilidade de carreira, supõe-se que terá, consequentemente, desenvolvido ferramentas internas que o ajudem a lidar com as tarefas que se apresentam em sua vida. Assim sendo, indivíduos adaptáveis seriam aqueles capazes de considerar e antecipar seu futuro como trabalhadores, de possuírem um senso de controle sobre seu futuro vocacional, de serem curiosos quanto a possibilidades de identidades e cenários futuros e de fortalecerem a confiança para alcançarem suas aspirações.
Alyane Audibert
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