terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Minha Vivência com a Leitura



Família Feliz! Este era o título do primeiro livro que li. Lembro como se fosse hoje da emoção que senti ao juntar as sílabas, as palavras, os parágrafos; ao mesmo tempo em que ia juntando os pedaços de palavras uma linda história ia se formando, também tinha desenhos, eu já tinha 8 anos, um pouco tarde para os tempos atuais. Enquanto não cheguei ao final do livro não parei, estava encantada. Meus pais estavam conversando e eu os abordei dizendo: - “a mãe fala errado!” –  Por que você está dizendo isso? - porque a mãe diz “queta”  e o certo é quieta! É assim que está escrito aqui no livro. Lembro-me da expressão de orgulho, de contentamento dos dois, seu olhar de aprovação, e me pediram para lhes contar o que havia lido.

Aquele livro falava da minha história, da nossa família. Falava de pai, mãe, filhos, plantas, do amanhecer; dizia: a tarde desce quieta nos montes, nos desenhos retratava a casa da avó, tal qual era a dos meus avós, com cercado, jardim, um portão e um cachorro, falava da felicidade que as pessoas sentiam ao receber visita de parentes e amigos.

Eu vivia no interior, sem energia elétrica, sem televisão. Meu mundo mais distante era a casa de meus avós e esse livro retratava o meu mundo, as minhas emoções. Então pensei: - se este livro fala da minha vida com tanta clareza e verdade posso conhecer outras histórias lendo outros livros.

Passei a ler contos, gibis, histórias de fadas e príncipes. Eu e meu irmão líamos Contos do Arrelia , líamos e contávamos as histórias de uma coleção que meu pai guarda até hoje e nos imaginávamos nesses mundos e com isso também passamos a inventar pequenas histórias.  

Sem energia elétrica, à luz de velas eu lia até tarde ou até meu pai perceber e dizer: - “ menina! Hora de dormir!

Robson Crusoé foi um livro marcante, eu ficava absolutamente encantada com a maneira que o escritor descrevia a paisagem, a ilha, as plantas, as refeições que o personagem preparava . Eu fui para aquela ilha com Robson Crusoé.

Até os 18 anos de idade vivi assim, longe da cidade e sem acesso à televisão. Percorria a pé a distância de 4km até o colégio todos os dias e, de tropeço em tropeço, ia virando as páginas dos romances policiais, das telenovelas, das histórias em quadrinhos e dos livros de literatura.

Conheci Jorge Amado e   ele  me levou à praia através de suas histórias em que se referia às areias do cais do porto, fui também com ele à Bahia, e, quando bem mais tarde conheci Salvador ali estava o Pelourinho tal qual ele descrevia, com suas ladeiras, suas cores e seus cheiros.

Meu gosto pela culinária, meu paladar, foram aguçados lendo livros de receitas e  romances, um deles, Éramos Seis, falava bastante de doces ; esse também me fez chorar pois falava de perdas e de morte.

Meu primeiro amor, esse conheci lendo José de Alencar. Descobri minha libido lendo romances que falavam de amor e de beijos e de sexo. Ria, chorava e contava as histórias e encantava minha mãe e minha irmã contando o interessante romance de Antônio Olinto: A Casa da Água.

O mundo da leitura é tão rico, tão encantador, tão inspirador.

Àquela época eu escrevia com facilidade, nas aulas de literatura eu tinha participação bastante ativa e quando  prestei vestibular minha nota na redação foi determinante para minha aprovação.

Hoje, quando minha querida amiga me convidou para escrever um texto senti um misto de emoção, entusiasmo, excitação e insegurança porque me dei conta de que para escrever eu tenho que estar com a leitura em dia e há muito tempo deixei de lado este rico hábito que me transportava e me transformava, que tornava a escrita leve e fácil. Percebi que tenho lido muito pouco e que não importa se  literatura espírita, mitologia grega, Paulo Coelho ou Dostoiéwski , o que importa é que preciso retomar esse hábito que tão bem me fazia. E é o que vou fazer agora mesmo,  pra  recomeçar, vou  terminar de ler Crime e Castigo de Dostoievski.



Rita Olivetto

2 comentários:

  1. Lindo e inspirador! Obrigado por nos brindar com tuas experiências literárias contadas com tanto cuidado e graça! Show!

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  2. Parabéns pelo texto Rita. Me deu várias dicas de livros.

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